9 October 2010

Viagem à chuva

A viagem alucinante do pensamento é subtil. Sentem-se os degraus de metal a arrancar devagarinho na sua subida. O xadrez das meias confunde-se com as tiras de metal dos degraus e continuam por ali acima. Muito ao longe ouve-se o acordeão do cego que geme. O som vai aumentando à medida que os degraus se somem no túnel e as mão tornam-se mais enérgicas e o som mais choroso, nos olhos que não vêem. As lágrimas secas reflectem o cabelo puxado atrás, a saia justa, a gabardina a pingar e a mão estendida. Não há mãos que apazigúem o som que não pára, mas agora corre bem melodioso, confundindo-se com a chuva. Da luz vem o cheiro a Outono, o papel amarelo embrulhado e as mãos polidas de cinzento com calos. “Hei, hei, estás aí? Hum? Sim, vais entrar agora!”


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